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Priscila dos Anjos

Priscila dos Anjos

Joinville (SC) 1982. Artista visual, gestora pública, performer pesquisadora e professora. Vive em Joinville. Formada em Artes Visuais pela Univille com pós-graduação em História da Arte no Brasil pela FAP (Faculdade de Artes do Paraná). Atua como artista desde 1999, tendo em seu currículo mais de 100 exposições, destacando, 13º e 14° Bienal Internacional de Curitiba, Rumos Cultural Artes Visuais 2011-2013 Convite a Viagem. Tendo sua trajetória artística premiada em 2021, 2014 foi premiada no 11º Salão Elke Hering no mesmo ano é também selecionada como uma dos 30 artistas mais influentes do estado de Santa Catarina, tendo sua biografia incluída no livro “Construtores das Artes Visuais: Cinco Séculos de Artes em Santa Catarina”. Suas criações trazem reflexões sobre o universo feminino, questões de gênero e o contexto educacional.

COLETIVO+CULT

 

PROJETO CAPIÁ


Durante 16 anos exercendo o papel de artes educadora, produzi materiais para compor minhas aulas, formando uma biblioteca
particular de materiais didáticos. Pude perceber que esses escritos eram importantes, não para serem reutilizados em outros anos, mas para serem revisitados, revistos e reformulados. Porém em meio a pandemia recebi o convite para mudar de função, passei a exercer o papel de gestora em uma escola indígena. Este material ficou armazenado em armários, deixando de ter função, sendo apenas um amontoado de papel.
Este novo fazer me fez pensar sobre os saberes, os acúmulos, os guardados. Estar em contato com os povos originários Guaranis, levou a refletir sobre todo o conhecimento que estava ali armazenado, sem utilidade, sem função e que empilhado, jamais teria valor. Que quando e se um dia voltar a querer usá-los, estariam desatualizados. Aprendi com o povo guarani que tem seu conhecimento traduzido/passado de forma oral, que conhecimento que é retido, e não compartilhado tem pouco valor. O saber deve ser universal, todos precisamos compartilhar para agregar, crescer.
É como uma sementinha que precisa ser plantada, para geminar e gerar novas sementes num ciclo continuo preservando seu DNA, mas melhorando a cada nova safra, suportando as adversidades do tempo.
O projeto Capiá leva esse nome em referencia a semente utilizada nos artesanatos guarani. Semente de grande importância para eles pois segundo a Cacique Lídia Timóteo, mais que matéria prima para sua arte esta semente é um marco territorial deste povo, pois onde é encontrado esta planta, referencia a passagem do povo Guarani por esta área.

 

Absorvendo esse saber, retorno para meu ateliê e resolvo então me apropriar dos materiais didáticos acumulados durante minhatrajetória como Arte educadora para produzir minhas sementes de saberes, pois cada professor é um semeador de saberes que partilha seus conhecimentos sem saber onde esse irá geminar.Crio uma polpa grossa com o material didático, construo a cada punhado de guardados, apertando entre os dedos, objetos quechamo carinhosamente de sementes, e as guardo em um cesto grande produzido pela Cacique Lídia Timóteo, que logo se faz cheio e trasborda.Parte desta polpa foi utilizada para produzir placas onde crio pinturas, utilizando barro coletados em visitas que fiz nas escolas que já lecionei, este solo onde pisei e semeei da origem palheta de cores para compor esta série.Voltar a esses espaços e rever pessoas das quais plantei sementes, compartilhei saberes e que mesmo ao passar dos anos se faz presente não só na minha, mas nas memórias de outros afirma que o plantio de outrora deu certo e geminou.

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NAALT

HYBRID33

A DOR QUE O OUTRO CRAVA EM MIM
 

O trabalho se refere as mulheres que sofrem com a violência de gênero, um chakra que afeta todas as sociedades do mundo. Nessa série, faço uso de espinho cravados no peito como materialização deste sentimento imposto por relações conflituosas, sejam elas, entre pares “amoroso”, entre meios familiares, entre relações sociais, me coloco em espaço privado desnuda, abrindo a alma, deixando transparecer o estado de espírito. Lidando com essa dor que não é só minha, mas que me é imposta por outro e que muitas vezes vem como expressão de afeto, mas afetos não ferem, não sangram, não doem.

Retirando Espinhos, 2023
Priscila dos Anjos
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